sábado, 10 de novembro de 2007

Deusa Ostara
A brisa atravessa o muro de pedra,
sopra flores em iguanas e retinas.
Antigamente foi princesa,
lambia sobrancelhas da deusa Ostara,
via lágrimas no Olho do olho.
No século I vivia no pulmão da Phonte,
comia terra, benzia pedras e gatos.

Agora mata a sede no orvalho branco.

Matisse


DANÇA HÚNGARA DE BRAHMS

Costumo pensar, então: este é um sonho,
uma pura diversão da minha vontade,
e já que tenho um poder ilimitado,
vou produzir um tigre.
Jorge Luis Borges

Não sei se sonho com gata ou peixe.

Se sonho com gata sem peixe,
escuto certo murmúrio renascentista
na “Dança Húngara”, de Brahms.
Se sonho com peixe sem gata,
viro onda,
espumo,
quebrando-me na aresta do granito.
Se sonho sem gata e sem peixe,
saio das nuvens,
levanto a fronte
e escuto.
Se sonho com gata,
“e já que tenho um poder ilimitado”,
ela se torna essa mulher envolta em óleo perfumado
com quem pratico o Kama Sutra.

Miran


Cartier Bresson


Aphrodite de Cnidos, de Praxísteles


ÁRVORES CRESCEM COM O VENTO

Segunda-feira flagrei a eternidade
na esquina abandonada ao vento.
Vinha silenciosa acima das tumbas,
rente aos ciprestes e altares.

A que lava louça no quintal
imaginou ter sido raptada
pela sombra azul da eternidade.
Árvores crescem com o vento,

vento que nada sabe de pictogramas
impressos em tabuinhas de argila.
A que se banha na ribeira

sonha que sobe ao espaço sideral,
ou descansa se escuta sinos
que a despertam do sono de não ser.