terça-feira, 20 de novembro de 2007

Quino


Marlene Dietrich


Georgia O'Keeffe


Leia a novela A senhora do gelo,
de Fernando José Karl

Francisca – com traços de asas – tão simples, por certo o colar de um sol a ressuscita. Suporta a força ascensionária por longos pedregais. Nada disfarça o apuro consumado do amor que a existe com estremecimentos de virgem.

Nas perguntas caladas eu a persigo, ela me responde com o mito da tempestade. Descemos, dois pagãos, ao convés do navio: Francisca me fala de cardumes de anchovas que se alongam pelas águas frias de nossa inexistência. Francisca me olha, busca nos meus olhos, não as ruínas, mas o reflexo das ruínas e pergunta:
– “Depois de tudo, para onde vai o aroma?” Um dos marinheiros responde: – “Para o próprio aroma”. Esfinge ao sol, enquanto durmo. Se eu acordasse agora, então o quê? Um olho aberto, outro fechado, a esfinge sonha com meus olhos. Meus olhos nessa luminância dos olhos da esfinge de cal. Meus olhos são alísios, alívios nos olhos da esfinge no pátio.

Esfinge apagando altas estrelas, que depois meus olhos reacendem. E por que esfinge, por que olhos? Seria mais simples não haver vida – nenhuma palavra – Seria mais simples não morrer.

Musa Gumus