quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Entrevista

com Manoel de Barros

Confraria: Todos perguntam ao senhor: “qual é a matéria de sua poesia?”. Nós perguntamos: o que é matéria de poesia?

Manoel: Pra meu gosto matéria de poesia é a palavra Poesia, pra mim é armação de palavras com um canto dentro. O canto é que comanda o verso até chegar a um encantamento. O canto pode ter até ritmo de samba ou forró.

Confraria: Quantos cagos são necessários para desmoralizar um sublime?

Manoel: Você sabe que o sublime é teimoso e bem guardado pelos aristocratas. Carlitos desmoralizou o sublime com a sua bengalinha de vagabundo e a sua cartola. A cartola e a bengalinha de Carlitos foram cagos geniais sobre o sublime dos aristocratas. O meu cago foi modesto e nem mil que eu desse no sublime valeriam como a bengala de Carlitos.

Confraria: O senhor acha que a qualidade da poesia brasileira de hoje é a causa do aquecimento global?

Manoel: Acho que a poesia não causa nada porque a poesia é nada. E se o Nada desaparecer a poesia acaba.

Confraria: Em meio ao pregão entre poetas “eruditos” e “populares”, dê seu lance: é possível realmente uma poesia afastada da realidade ou toda poesia é, afinal, uma outra realidade.

Manoel: Acho que poesia é uma outra realidade. Ela é produto das visões de um poeta. E as visões trazem por dentro nossas loucuras, nossas fantasias e coisinhas à toa, sem procedência.

Confraria: O que é mais virtual, a poesia publicada na internet ou a poesia que um poeta não conseguiu publicar?

Manoel: Poesia virtual há de ser como a transa virtual. No meu tempo de menino transa virtual a gente chamava de matar bentevi a soco. Na internet não sei como chamam a poesia virtual.


Esta matéria foi publicada originalmente na revista cultural “Confraria do vento”.

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