segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Anon


AS MENINAS DA TORRE TURCA

Aos domingos morrem as meninas da Torre Turca,
com as bocas cheias de vento.

Todo domingo é assim,
as meninas com o punhal na altura do peito,
vestidas de sol.

Na segunda-feira ressuscitam,
com os olhos marejados de morte.

Andraos & Tabet


DECLARAÇÃO DE AMOR

Tua beleza existe porque Deus
--- embriagado de jasmim ---
passou duas vezes pela Terra.

Luca Gilli


A VELHA CHAMA

A urna de meu peito enferruja,
se tua voz não tem volta.
Meu vulto perde o perfume,
ando de lá para cá, ardo em azinhavre.

Um dia, quem sabe, morto,
pelo espinheiro além eu embarque na manhã
em busca do último grão de vento.
Talvez eu possa ser viageiro deste trem

com a urna do peito tocada pelo fogo.
Quem ousou esperar que o perfume do vulto
assim jorrasse entre palavras e ritos?

Lapidar árduo cristal de neve,
se tua voz não volta nunca mais.
Dar ao cristal o contorno da ausência.

Hokusai (1760-1849)


A CARPA

Ela --- de barro cruzando sete rios ---
sensível ao vaso com peixes dourados.

Se adivinha inteira, igual árvore,
entre as odes de Ovídio e as ondas de Hokusai.

Enlouqueceu ao ser tocada por alados
nas margens ali para nada lodosas.

Ela banhista do rio Cachoeira,
provisoriamente chamada de carpa.

Clarence White


PÃO

Jogo pão na cama
para que dedos o busquem.

Na cama dedos ganham braços
pernas
úmidas frases no travo da boca.

Comemos todo pão,
úmidos.