terça-feira, 27 de maio de 2008

Paul Strand, 1916


GRAMOFONE NA SALA DE JANTAR

Gramofone e tear líqüido: a música paira
na nudez da luz (cujo exterior é o interior).
A jarra de porcelana, de suave gargalo,
só tem em si porcelana e favo oco com verbenas.
Um pouco de sombra a jarra esquece
sob nenhum vento na sala de jantar.
Encalham na pele fria da jarra
silêncios de chuva sem haver chuva.
Se alguém acariciasse o sono da jarra,
nunca a acordava do sono de não ser.
O sonho da jarra é sem água
(que a si própria dessedenta).
A jarra cansa da jarra, sugere o desconcerto:
solta os cabelos na nudez da hora
e, favo oco com verbenas, escuta a música e paira.

Hilda Hilst, em 1933, com 3 anos
Desvendar o site oficial de Hilda Hilst

http://www.angelfire.com/ri/casadosol/hhilst.html