segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Flor Garduño, 2001


e, se fumo erva-cidreira, me transmudo para um filme de Fellini, no exato instante daquele take de Amacord em que uma freira anã ajuda o louco de pedra a descer da árvore
Vento quente no jardim da Casa de Água. Más valdría no haber nacido. Balofas nuvens: no undoso céu curvas imensas de cristal emanam dos eucaliptos e, se fumo erva-cidreira, me transmudo para um filme de Fellini, no exato instante daquele take de Amacord em que uma freira anã ajuda o louco de pedra a descer da árvore. Não sei se é o efeito do capim-cidreira, que clarifica e intensifica tudo a meu redor; também não sei se essas balofas nuvens algum dia existiram. Para me distrair, enquanto Lucana se espreguiça na banheira, eu leio Arkadii Dragomoshenko na varanda da Casa de Água, sorvo ostras com limão, crustáceos com salsa e coentro. Eu lendo a ode em que Arkadii Dragomoshenko descreve o último suspiro de Oskar Kokoschka. Depois abandono as odes, contemplo na banheira a respiração daquela que, após o banho de sais, vem espraiar-se ao vento.

Tiago Recchia


Banheiro Vip


Foto sem crédito.


Rettamozo, mestre dos mestres.
Ver o blog do Rettamozo,
o Retta.

http://rettamozo.multiply.com/

O maior bonsai do mundo.


Javier Castillo.

Molhando o biscoito


Foto sem crédito.

Mestre Eckhart
Mestre Eckhart foi um teólogo alemão, injustamente considerado herege pela Igreja Católica.

Embora a Igreja patriarcal de Roma impusesse um controle intelectual rígido, a presença da filosofia espiritualista de Platão e dos neoplatônicos nunca conseguiu ser suprimida durante a Idade Média, principalmente na Alemanha – país que sempre se destacou pela luta das liberdades intelectuais (notadamente Lutero, pela via espiritual) – mesmo quando o interesse recaiu sobre Aristóteles, no século XIII.

Isso explica o fato de dominicanos de Colônia haverem construído um ambiente particular, favorável ao renascimento do neoplatonismo, acentuadamente místico. Foi nesse ambiente que surgiu o Mestre dominicano Eckhart, um dos maiores nomes da Filosofia medieval e também um dos maiores místicos do Ocidente.

Nascido em Hochheim, na Turíngia, em 1260, ingressou no convento dos dominicanos em Erfurt, tendo estudado em Estrasburgo e em Colônia. Tornou-se Mestre em teologia e ensinou em Paris, entre 1302 e 1304. Exerceu vários cargos eclesiásticos na Alemanha até estabelecer-se definitivamente em Colônia em 1320.

Mestre Eckhart escreveu várias obras, sendo a mais conhecida "Pregações e Tratados" (tratando da unidade entre Deus e o homem). Morreu em 1327. Em 27 de março de 1329, o Papa João XXII, na sua Bula "In agro dominico" condenou 28 proposições do Mestre Eckhart, sendo 17 consideradas heréticas e 11 temerárias. Apesar disso, as camadas burguesa e popular acolheram as propostas do Mestre, tendo influenciado inclusive Lutero.
Sermão 16

Diz um mestre: se faltasse qualquer meio (separador) entre mim e o muro, então estaria eu junto ao muro, mas não me acharia dentro do muro. Nas coisas espirituais, não é assim. Porque uma coisa sempre se encontra dentro da outra; o que recebe é o que é recebido, pois não recebe nada fora de si mesmo. Esse é um assunto sutil. A quem o compreende já não fazem falta os sermões. Mas direi um pouco mais sobre a imagem da alma. São muitos os mestres a opinarem que esta imagem nasceu da vontade e do conhecimento, mas não é assim; ao contrário, digo que esta imagem é a expressão de si mesma sem a vontade e sem o conhecimento. Trarei ao seu alcance uma semelhante: que ponham um espelho diante de mim: me reflito no espelho, queira-o ou não, sem vontade nem conhecimento de mim mesmo. Essa imagem reflexa não provém do espelho e tampouco provém de si mesma, essa imagem se fundamenta mais que tudo naquele de quem tem sua essência e sua natureza. E quando o espelho já não se acha diante de mim, não me reflito mais nele, porque eu mesmo sou a imagem. Outro exemplo mais: quando uma rama brota de uma árvore, leva tanto o nome como a essência da árvore. Aquele que brota é o mesmo que permanece dentro, e aquele que permanece dentro é o mesmo que brota. Assim, pois, a rama é a expressão de si mesma. O mesmo digo também da imagem da alma: aquele que sai é o mesmo que permanece dentro, e aquele que permanece dentro é o mesmo que o que sai. Essa imagem é o Filho do Pai, e essa imagem sou eu mesmo, e essa imagem é a sabedoria. Quem o compreende que não se preocupe!


Sermão 23

Das obras interiores e exteriores.

(Ponhamos o caso em) que um homem quisesse ensimesmar-se com todas as suas potências, as internas e as externas, e nesse estado se achasse de tal modo que em seu interior não tivesse nenhuma representação nem impulso forçoso algum (que o fizesse obrar-operar), ele se encontraria, pois, sem nenhuma atividade, nem interna nem externa; aí então se deve observar bem se, estando assim as coisas, (o homem) não se sente impulsionado espontaneamente a obrar. Porém, se ocorre que não é atraído por nenhuma obra e também não tem gana de fazer nada, ele deve obrigar-se à força a (empreender) uma obra, seja essa interior ou exterior – porque o homem não deve contentar-se com esse nada por melhor que lhe pareça ou seja – isso (há de ser) para que ele aprenda a cooperar com o Espírito quando (noutra ocasião) se achar sob uma forte pressão ou coação (por obra divina) e assim de maneira tal que melhor possa ter a impressão de que o homem, em vez de obrar, é obrado. Não se trata de que esse deva fugir, ou esquivar-se, ou destoar de seu interior, senão justamente que dentro dele e com ele e a partir dele aprenda a obrar, fazendo que a intimidade abra passagem à atividade e que se possa conduzir a atividade à intimidade, de sorte que se acostume a obrar sem coação. Pois há que se dirigir o olhar para essa obra íntima e obrar a partir dela; seja em leitura, seja fazendo uma externa. No entanto, se a obra externa está por destruir a interna, há que se dedicar à interna. Mas, se ambas puderem existir em unidade, seria isso o mais próprio para que assim cooperássemos com o Espírito. Agora, uma pergunta: Como há cooperação ali onde o homem se despojou de si mesmo e de todas as suas obras;(...) ali, pois, onde se vão desmantelando as imagens e as obras, ou qualquer obra que possamos fazer? Uma resposta: Uma só obra nos silencia efetivamente e por excelência, esta é a anulação de si mesmo. Contudo, por maiores que sejam esta anulação e esta renúncia de si mesmo, elas permanecem a ser indevidas se o Espírito não as integraliza dentro de si mesmo. Só quando o Espírito faz humilde ao homem por meio do próprio homem, a humanidade é completa (plena) e suficiente. E só assim e não antes se faz o que é suficiente e devido para o homem; só assim e não antes.


Traduzido por Ronaldo Ferrito.


MESTRE ECKHART (JOHANNES ECKHART) teólogo, filósofo e religioso alemão, viveu entre 1260 e 1327. Foi dos últimos alunos de Alberto Magno, fazendo-se seu condiscípulo ao lado de Tomás de Aquino na Universidade de Colônia. Considerado um dos fundadores da filosofia em língua alemã e postumamente julgado herege pela Igreja Católica, seu pensamento influenciou muitos outros pensadores, entre os quais Julian de Norwich, Teresa de Ávila, São João da Cruz, Nicolau de Cusa, Martinho Lutero e Hegel. A partir do século 19, com a redescoberta de seus manuscritos e a diminuição da perseguição por parte da Igreja, sua imagem se refaz, a ponto de hoje ser reconhecido como um dos mais importantes representantes do misticismo cristão. É autor do Livro da divina consolação, entre outros, e seus sermões foram traduzidos para diversas línguas. Os dois fragmentos acima são traduções inéditas em língua portuguesa.

Tatanka Yotanka: "Touro Sentado",
chefe Sioux.
Ver os índios Sioux

http://www.youtube.com/watch?v=5qsn6reR1r0&feature=related