segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ruud van Empel, sem data


Única fotografia conhecida do Deus

Sem palavras


A cara do dono

George Seeley, 1910

A RESPIRAÇÃO DAS MULHERES


Mulheres em flor no fundo do rio respiram se eu sonho com elas. O rio é um diamante líqüido e eu investigo mulheres em flor. Por cima de minha cama, se eu acordar, elas somem. Por isso olham, compenetradas, as mulheres que vêm à tona do rio. Voam entre caaobás e barcos. Voam e sabem, com pavor, que devem cultivar meu sono. Nele é que estão floridas, ao lado de ventos que, vindos do alto, suavizam a respiração do meu sonho.


Hilda Hilst (1930-2004)

Desvendar o site
da angélica Hilda Hilst


http://www.angelfire.com/ri/casadosol/hhilst.html

Edward S. Curtis, 1906

Monteverdi e a praia de Pinheiros-bravos, que é um declive arenoso e confina com os ventos e a neblina vivificante. A língua natural e o ato de respirar: um só enigma. Para proteger Lucana do sol e da chuva, K. construiu uma espécie de caramanchão e, à sombra dele, colocou um banco de pedra e um frasco d’água. Quando o espírito impuro sai do homem, perambula por lugares áridos, procurando remanso, coqueiro e céu, mas não encontra. O espírito impuro, antes de ir ao deserto, decide verificar se a sombra do caramanchão é mesmo de fresca ramagem. Lucana sopra na pele do espírito impuro, até que a pele seca se torne avena suave que daqui se escuta. Pensa Lucana: “Devo ancorar minha barca perto do caramanchão de rosas brancas e longe do sabre no mais fundo. Se os fariseus, ressoantes e vazios como tambores, ousarem insinuar que aqui não devo ancorar minha barca, logo uma irada torrente me encharca cabelos e pulmões e as árvores altas vergam até às pedras para que sumam os fariseus nas chamas de uma sonata de Monteverdi”. Pequena descrição dos talha-mares, de coloração escura, na praia de Pinheiros-bravos: se próximos às águas da neblina, quase é certo que, sendo talha-mares, nunca leram livros nem ajoelharam diante do banco de pedra e do frasco d’água, mas, sabe-se que eles têm o hábito de voar junto da água, alimentando-se de tainhas e plantas subaquáticas. Sugeri à Lucana que fôssemos às termas marinhas. Ela concordou e rezou o preceito de Buddah: “Antes que a primeira vela se acendesse, a vela já estava acesa”. Quando chegamos às termas, ciprestes vieram ao nosso silêncio. A única Lucana que ali estava ciciava no tímpano do salmão transparente – salmão no leito líqüido da onda. Em torno havia um mar cativo de espumas. Naquilo pedras o mar molhava: um grosso aguar. A náutica Lucana velava o incensário de ouro e fogo, abandonava a língua no apuro do açude. O gongo a serenava. Antes que o primeiro salmão se molhasse, o salmão já estava molhado. Ao mesmo tempo em que a neblina sumia por entre as árvores, eu e Lucana, afundados no vapor oloroso das termas marinhas, éramos duas cinzas frias remoçando n’água.

Clara Meadmore

Ver o blog Sexpedia:

é de dar água na boca

http://sexpedia.globolog.com.br/

“Sexo envelhece”, diz virgem mais velha do mundo, a escocesa Clara Meadmore. Viva a velhice!

Quino

Ver Charya Nritya:

a sagrada dança do Nepal

http://www.youtube.com/watch?v=l2SIyNgfH


Bono Vox e Pavarotti

Escutar Bono e Pavarotti

http://www.youtube.com/watch?v=u4VM41immWI&feature=related

Shiki (1867-1902)


Ana Castro de Jesus Leão Beeck:
minha vó, meu amor.
A RESPIRAÇÃO DOS VELHOS

Esse poema foi escrito em reverência à vó Ana, 97 anos.


Cobrir-se com o plânctum da alegria, antes que o langor da preguiça nos olvide entre ceras. O nada da brisa, a perfeição da leveza nesse terreno coberto de bambus. Quantas noites mansas escuto grafadas em tábuas de caligrafia chinesa? Construídas com ossadas de velhos sábios, as tábuas guardam a respiração deles. A caligrafia salva do esquecimento: soluços, amor, relva, idioma de velhos sábios que reverenciam o silêncio nesse terreno coberto de bambus.

Retrato de um índio Sioux

Ver uma

dança dos índios Sioux,

1894

http://www.youtube.com/watch?v=HQGW5a0q51w

Joel-Peter Witkin

Em lugar de olhos, dois nuncas. A noite é palavra unida à noite essencial. Um diamante iça, em lugar da morte, e da cisterna sombria acordo alado: sem amada, capinzal, mãe, pedra ou labirinto. Em lugar de respirar, a música me vela. A eternidade é o silêncio das tigelas de arroz. Em lugar de estar vivo eu sou um canto, enlouquecido por discordar do roteiro. É desconcertante morrer sem acariciar o pomo dourado da própria voz, e a lenda da pele, que acende com o toque dos dedos. É sempre absurdo não ter direito a um nome, a um quintal com pequenos pássaros intensos. Os erros são todos meus. A luz é toda tua. Quando eu não existir mais, eu também virei recolher os domingos que não passei à beira-mar.