terça-feira, 9 de junho de 2009

O rumor das castanholas acorda o louco Geremias, que dorme nos degraus de pedra da mansão dos Wassman.

Só dando no louco Geremias com o gato morto, até o gato miar.

O gato morto não mia nunca, e o pobre-diabo Geremias chuta os vasos de terracota que ladeiam os degraus de pedra; observa que o patriarca dos Wassman o espia de uma das vidraças com medo de que ele arrombe a porta maciça de carvalho da mansão.

Wilhelm Worth Wassman vê o que é o Geremias, logo após torna a deitar-se – obeso que é – mas acordado, de barriga para o ar, com os olhos fitos no teto da mansão. Sorve do samovar de prata um pouco de chá.

O céu cai sobre os dois – Wilhelm e Geremias –, o céu, impassível, sem as rugas do mendigo Geremias, sem as manias do aristocrata Wilhelm, um dia claro assim, ensolarado, já estava lá sobre os convivas das bodas de Canaã, o céu lá estava e viu, com seus olhos claros, o suicídio de Lucrécia, o sacrifício de uma virgem à beira do rio.

Percorreu várias vidraças este céu antiquíssimo, sem acertar com a verdadeira, afinal estacou na enorme vidraça da vasta janela da mansão dos Wasmann, e, se atentarmos bem, nos degraus de pedra, Geremias acaba de morrer ao lado do gato morto.

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