domingo, 13 de setembro de 2009

Minha querida amiga,
o nosso Reino não é deste mundo nem do Outro. O nosso Reino singra no intermediário, que só pode ser alcançado pela arte: seja ela qual for: escultura, música, pintura, dança, teatro, poesia, prosa, dona de casa.

Escuto o que grafou Cecília Meireles: "Irmão das coisas fugidias, não sou alegre nem sou triste, sou poeta". Não devemos ser felizes nem infelizes, mas atentos à grande árvore que cresce no ouvido. Nosso reino não é deste mundo nem do Outro. Nosso Reino é a serenidade livre.

Devemos estar atentos à pulsão e pulsão nada mais é que "discernimento vital". A arte: discernimento deste discernimento. Se somos ditadores, somos fel. Se discernimos, acordamos a pétala que respira na sombra. E pulsão, o que também pode ser? Um objeto jamais fixável de uma vez por todas. É como se disséssemos que estamos aqui para fixar o que habita no invisível.

Palavras do poeta Dennis Radünz: "O invisível é o excesso de não ser".

E o que chamamos Arte nada mais é que o ato de fixar o discernimento: a pulsão. E a cura? Escutar, no símbolo, pulsão de vida. Se vejo um jarro d'água, por exemplo, tenho consciência de que ele é, ali onde posso vê-lo dentro de mim, apenas uma imagem fugidia. Para captar esta imagem fugidia, antes devo ter uma espécie de afeto por esta imagem. Depois tentar fixá-la com os meios que a Arte me oferenda. Não é ao significante (à palavra) que se deve escutar, mas à vida, ao afeto, que já traz em si sua plêiade de significantes (palavras).

Agora me entenda, minha amiga: trago algo em minha alma que se parece muito contigo. O meu lado feminino está em sintonia com teu mistério feminino. Contudo não devo confundir você com minha alma. Mas você tem sido minha mestra, sim, e por isto me sinto tocado pela tua existência. Eu devo cuidar de minha alma e desejar que cuides de ti. Antes de amar a você, devo amar este Reino que não é deste mundo e que se entrelaça a meus oboés. Isto aprendi, por isto te escrevo agora.

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