segunda-feira, 22 de junho de 2009

Henri Cartier-Bresson, sem data

você é dente de sabre
eu não, eu sou abre-te sésamo
o meu pecado mora ao lado
o meu pecado é passar a língua
ali onde plantas e peixes
sabem mais que santos
ali chupo pequena uva mas parece
uma
chuva

este poema é pra ser
um peixe de escamas de prata
estirado na cama vazia
um peixe sou na cama fria
se não vens
nessa noite chuvosa
sou
um
peixe
que
apodrece
com
uma pérola entre os dentes

pedi água para beber
à tua bola de cristal
à tua pele pedi
que respingasse
na pele que lavo
absorto
para sempre absorto
nos mil dias de orvalho
que guardas entre as coxas

Shirin Neshat, 1993

a intervalos

como se nascido do vento

o velho moinho

remói o vazio

ponho os pés ali

não no vazio

mas no tapete persa do vento

e

se flutuo

no vento persa

do tapete

não morro

antes evaporo

pra chover depois

em secas folhas de árvores

enquanto chovo

Shiva desperta

e repete pra que eu ouça:

toda palavra é um veneno

e o poema

antídoto

extraído da própria palavra

Bradford Washburn, 1945



no oco búzio

o vazio se refaz

infatigável