A senhora Quanza
coroada a peixes
entra na chuva
Um pequeno
estudo
sobre Física Quântica
Texto de Fernando José Karl
A tranquila contemplação do objeto natural: a chuva: onde
a senhora Quanza entra coroada a peixes. Deixo-me perder neste objeto: a
chuva: mas ainda existindo enquanto puro sujeito do conhecimento.
Se
presto atenção a um mantra, desvio meu foco de pensamentos ociosos.
Literalmente, a consciência não pode focalizar duas coisas ao mesmo tempo. O
mundo externo que existe em nós como um mapa interno principia a ceder à medida
que nos tornamos mais eficazes na atenção ao mantra.
O
poeta Rabindranath Tagore escreveu:
Semelhante a uma jóia, o imortal
não
se jacta do número de anos
mas
do ponto cintilante de seu momento.
Quando há absorção completa do objeto da
meditação, o aqui-agora é Samadhi. E quem é o sujeito puro do
conhecimento? É aquele que tudo conhece, jamais conhecido; aquele que,
destituído do incessante querer, é sem dor e respira fora do tempo e do espaço.
Nós não o conhecemos jamais – porque o
sujeito puro do conhecimento é que conhece, em toda a parte onde o conhecem.
A
senhora Quanza, coroada a peixes, enraiza-se na chuva. Ninguém jamais viu a chuva, porque o que vemos é a
chuva em nossa cabeça.
Escreve
Ibn al-Arabi: "Ela (a consciência) nem tem o atributo do ser nem do
não-ser. Ela nem é existente nem não-existente. Não se pode dizer que seja a
Primeira ou a Última."
O
nome técnico da ação instantânea à distância, sem sinal, é não-localidade
quântica. A não-localidade (e a transcendência) estão em parte alguma e também
agora/aqui.
Nada
existe fora da consciência.
A
consciência é não-local. A consciência é o meio que produz o colapso da onda de
um objeto quântico, que existe em potentia, tornando-a uma partícula
imanente no mundo da manifestação. O colapso da onda quântica é não-local.
Quando vemos sem consciência de que vemos, não ocorre colapso.
Leio
uma história zen:
Dois
monges discutiam sobre o movimento de uma bandeira ao vento.
Disse
um deles:
“A
árvore está se movendo”.
“Não,
o vento é que está se movendo”, corrigiu-o o outro.
Um
terceiro monge, que passava por ali nesse momento, fez uma observação:
“A
árvore não está se movendo. O vento não está se movendo.
A mente de
vocês é que está se movendo”.
Os objetos quânticos existem de uma forma muito
diferente dos macrobjetos da vida diária. A lua está lá em cima quando não a
olhamos? Na medida em que ela é, em última análise, um objeto quântico, temos
que responder que não.
Talvez
a mais importante, e mais insidiosa, suposição que absorvemos na infância é que
o mundo material de objetos existe lá fora – independente dos sujeitos, que são seus
observadores. Há prova circunstancial em favor dessa suposição. Em todas as
ocasiões em que olhamos para a lua, por exemplo, nós a encontramos onde
esperamos que esteja, ao longo de sua trajetória classicamente calculada.
Naturalmente, projetamos que ela está sempre lá no espaço-tempo, mesmo quando
não a estamos olhando. A física quântica diz que não. Quando não estamos
olhando, a onda de possibilidade da lua espalha-se, ainda que num volume
minúsculo. Quando olhamos, a onda entra em colapso imediato. Ela, portanto, não
poderia estar no espaço-tempo. Faz sentido afirmar: não há objeto no
espaço-tempo sem um sujeito consciente observando-o.
A
experiência que o sujeito tem de um objeto dentro de si proporciona-lhe um
senso de existência e de identidade. O fato de que existe apenas o mundo
espiritual priva-nos da esperança e nos propicia a certeza. Existe apenas o mundo
espiritual; o que chamamos de mundo físico é o mal do mundo espiritual.
É perfeitamente pensável que o resplendor da
vida circule por toda parte, e sempre em toda sua plenitude, acessível mas
velado, profundo, invisível, longínquo. Mas ele está ali, sem hostilidade, sem
relutância nem surdez. Com a palavra certa acode ao chamado. Essa é a essência
da magia, que não cria, mas convoca.
Quem
sou?
A
resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em
seu rosto enigmático.
De
onde vim?
A
resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em
seu rosto enigmático.
Para
onde vou?
A
resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em
seu rosto enigmático.
O
que nós, escritores, podemos aprender com os lagartos ou copiar dos pássaros?
Na rapidez está a verdade. Quanto mais rápido o jorro, mais veloz a escrita,
mais sinceros nós somos. Na hesitação entra o pensamento. Com a demora vem o
esforço de encontrar um estilo, em vez de saltarmos para verdade. Mas se
procuramos nos voltar para ver o pensamento, aprisioná-lo nas tarrafas da
análise e nas armadilhas das definições unívocas, ele também se esvanecerá como
fumaça. Há portanto uma singular significação da linguagem, tanto mais evidente
quanto mais nos entregamos a ela, tanto menos equívoca quanto menos pensamos
nela, rebelde a toda posse direta, mas dócil ao encantamento da linguagem,
sempre aí quando confiamos nela ao evocá-la.
Bosi diz: “A
linguagem é pensamento-som”.
Provérbio
árabe: “Não é porque o céu está nublado que as estrelas estão mortas”.
O
mais insignificante
descerra a porta maciça: eis o que tudo
é –
um ponto (.) – nada mais.
Um
ponto (.) que recebe a alcunha de quantum (unidade de energia luminosa):
esse ponto (.), ou quantum, é capaz de deixar a natureza tão flexível,
que se torna possível a inexplicável transformação de não-matéria em matéria,
de tempo em espaço, de massa em energia.
A
comunicação sem sinal deve acontecer fora do tempo e do espaço: o domínio da potentia
que está fora do tempo e do espaço: a não-localidade quântica: a consciência é
não-local.
A
não-ação preconizada pelas práticas orientais não é senão integrar-se à ação, a
superior, a sublime. As possibilidades quânticas se expandem quando não estamos
causando colapso delas.
Quantum:
unidade básica da matéria ou energia: 100 milhões de vezes menor que o átomo
mais ínfimo: no nível quântico, a matéria e a energia estão
interligadas: devemos aprender a mergulhar no domínio: Algo ou ?:
e dali ditar a própria realidade: no nível quântico, matéria e energia
tornam-se alguma coisa que não é matéria nem energia: os físicos
referem-se a esse estado primordial como singularidade.
O
quantum é invisível: a palavra invisível significa que,
além de não ser visto pelos olhos, é também imperceptível para qualquer
instrumento inventado pelo homem.
O
ponto (.) em que a coisa-em-si entra mais imediatamente no fenômeno é aquele em
que o fio de ouro da
consciência
ilumina a Vontade/a Pulsão, que jamais pode tornar-se objeto da consciência, a
não ser através de uma ideia (Vorstellung) que a representa.
O
fóton (unidade de energia luminosa) é um quantum de luz: cada quantum
é feito de vibrações invisíveis: fantasmas de energia à espera de assumir a
forma física.
Que
algo tão extraordinário como um estado de consciência surja em consequência da
irritação do tecido nervoso é tão inexplicável quanto o aparecimento do Gênio
quando Aladim esfrega a lâmpada: a consciência existe, é incontestável, e atrás
dela nada existe que possamos perceber: mas ela não existe senão acasalada à
linguagem, e não é a primeira que aparece, é a segunda: a função da consciência
é a de se perder, obscuramente, na linguagem: a consciência não pode se
contemplar a si mesma sem passar pela linguagem.
A
linguagem não tem nenhuma relação conexa com a realidade: não há pensamento sem
expressão: a linguagem é um fenômeno emotivo: nós pensamos frases, não pensamos
pensamentos: a palavra é a decisiva simplificação: há menos palavras que
frases: o número de sons ou de elementos fonéticos contidos nas palavras é
muito menos que as próprias palavras: a escrita registra os sons: não existe
memória sem emoção.
A
linguagem animal implica uma aderência do sinal com a coisa significada: para
que a aderência cesse e o sinal adquira um valor independente do objeto,
é necessária uma operação psicológica que está no ponto de partida da linguagem
humana.
Na
Física Quântica, as coisas permanecem como possibilidades, até que um ser
consciente de fato as observe.
A B, C, D, F, G etc
__________
Algo
?
Outro
Toda
área abaixo da linha não é uma região para ser visitada no espaço e no
tempo. A mente e o corpo ficam acima da linha: A é um evento mental, um
pensamento: todas as outras letras: B, C, D, F, G etc, correspondem a
processos físicos que se seguem a A.
Os
estados mentais são invisíveis e não têm peso. O pensamento é imaterial e não
tem nenhuma ligação com algum objeto material. Todas as mudanças físicas no
organismo podem estar ligados a uma cadeia natural de causa e efeito, exceto
o espaço abaixo da linha depois de A: o Algo ou ?
ou o
Outro: esse Algo ou ?
ou o
Outro é o ponto em que
primeiro ocorre a transformação do pensamento em matéria: e precisa ocorrer, ou
os outros eventos não ocorrerão: essa transformação não leva nenhum tempo nem
acontece em algum lugar: a imagem assemelha-se
a uma fila de pessoas passando uma ânfora umas às outras, onde todas apanham a
ânfora da anterior, menos a primeira, que a pega não sabendo de onde: ou talvez
a pegue de lugar nenhum.
Na
Fonte da Inteligência há pouca diferença entre pensamentos e moléculas:
as palavras e as imagens funcionam como as moléculas reais
para disparar o contínuo processo da vida.
Aainda
é mistério o instante em que a Natureza criou o primeiro fóton no vazio. Entre
um pensamento e outro existe um lapso de silêncio. Algo mais profundo, no domínio do silêncio,
cria nossa visão da realidade.
Aquele
que se denomina o Algo
ou ?
ou o
Outro em nós, é aquele que
está para além de uma dimensão imaginária, sendo o portador de um tesouro de
significantes, isso é, o Algo
ou ?
ou o
Outro é uma instância que
é feita de palavras: o significante não é o som pronunciado ao se
enunciar a palavra, mas a sua imagem acústica.
O
sim diz respeito ao campo do Algo ou do ? ou
o
do Outro,
pelo fato do sujeito, pela sua inconsistência, só poder aparacer Outrificado.
Sim, faço do Agora o foco principal de minha vida.
O
observador silencioso de todo processo: só existe matéria se houver o observador
consciente: ao toque de um pensamento um neuropeptídeo (molécula
mensageira) aflora na existência: o fóton (quantum de luz), não é quase
nada, e, porque feito de mínima matéria, pode lampejar dentro e fora da
existência.
A
grande capacidade do neuropeptídeo (molécula mensageira) é a de obedecer aos
comandos da mente com a velocidade da luz. Supor a existência de um campo
invisível que mantém toda a realidade unida.
Um
verso dos Vedas diz: “O que você vê você se torna”.
No
mesmo instante em que você pensa Sou
feliz, um neuropeptídeo
transforma sua emoção – que não tem nenhuma existência sólida
no mundo material – numa partícula de matéria tão
perfeitamente afinada a seu desejo, que todas as células de seu corpo,
literalmente, ficam sabendo dessa felicidade e a compartilham. O Universo foi
criado uma vez, mas nós nos recriamos a cada pensamento.
No
Oriente, meditação significa a ausência de objetos na mente. Quando não há
pensamentos se movendo dentro de você, há uma quietude. O buraco real clama por
um significante que o fixe a um objeto e por uma imagem que lhe dê
consistência, mas tudo o que encontra é a marca de um objeto ausente –
objeto a – o silêncio.
De
que maneira, no cérebro, um padrão neural se torna um vaso sagrado é uma
questão que a neurobiologia ainda não elucidou. Se pedirmos para alguém fechar
os olhos e imaginar um objeto, as mesmas áreas do cérebro se
ativarão, como se estivessem vendo o objeto. A verdade é que o cérebro não sabe
a diferença entre um vaso sagrado que ele vê com os olhos abertos, por exemplo,
e um vaso sagrado que ele vê com os olhos fechados, através da memória, pois os
mesmos neurônios são ativados. Tanto faz se o vaso está fora ou dentro do
cérebro, um padrão neural é que constrói o vaso sagrado com a forma de uma
imagem. O vaso sagrado-objeto e o vaso sagrado-imagem, ambos são reais para o
cérebro que, depois, repassa as informações sobre o que viu e sentiu sobre este
vaso sagrado para todo o corpo.
Tudo o que nos
cerca, e nós mesmos, é apenas restolho de um colosso invisível: somos o grande
envergonhado que se faz pequenino: não há nada mais atual que a grande infância
esquecida: as sombras só ganham vida quando carregadas pelo desejo: a presença
insidiosa do desejo: pois o desejo é o cerne da magia: dir-se-ia que é uma lei
do espírito só encontrar o que não procurou: o acaso é fundamental: as
partículas não seguem o bom senso: o essencial não ocorre no espaço e no
tempo.
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