Poison grows in this dark
Hexâmetro pintado no peristilo da
casa dos amantes: Amantes ut apes vitam mellitam exigunt. “Amantes, como
as abelhas, vivem no mel”.
A luz calcina paredes do quarto da casa
dos amantes: a chama está de pé na casa dos amantes: e as sombras?: lacradas.
Não
sei reconciliar-me com minha sombra: até a sombra deve ter uma sombra: pólen,
haste, poussin.
O único meio de produzir um discurso apto a
dizer o profundo será dobrar-se a todos os vendavais jazzísticos da língua: desejo para o meu amor a vegetação dos ventos que corre nas minhas veias pagãs.
Leio, apesar do insidioso cansaço que
me abate nessa hora tardia, um in-fólio de Espinosa que afirma que “a alma
humana não conhece o próprio corpo nem sabe que este existe; que a alma humana
é a própria alma; que a essência das coisas produzidas por Deus não envolve a
existência”.
A língua é um sistema em contínuo
desequilíbrio. Se levada ao extremo, alucina o adágio fugace, depois encontra o estame
do som. Enxugar o gelo com a língua: inútil. Enxugar as águas da praia do Grou
com a língua: inútil. Como explicar a língua de frauta ruda, a língua de
agreste avena, a língua de Ur a uma tartaruga morta? a um ventilador quebrado?
Cala-te, ó língua putrefata. Cala-te, ó
pó da língua.
Se eu trouxer a caldeirada de enguia
para a única terrina na mesa, então queime, ó língua, queime beatos e quiabos:
queime, ó língua, queime hóstias e crucifixos, depois escute, com a língua do
tímpano: o “Tchibum”, de David Hockney; o “Whaam”, de Lichtenstein; “As
carpas”, de Hokusai.
Com a cabeça envolta em mel, com a
cabeça envolta em tempestade, a língua atiça a torre de
Babel, a língua baba a planta venenosa no pulmão do óbvio, e, com a espinha do
peixe Capelo (Synaptura lusitanica), engasga os que não escutam a chuva
na vidraça, os que apedrejam as finas linhas de Klee, os que consideram os mantras
de Aruanda um delito e detestam a bela voz de Teresa Salgueiro: https://www.youtube.com/watch?v=kpCk3fJU-g4.
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