terça-feira, 30 de abril de 2013

Não custa nada acreditar


Contam os místicos que traz sorte
encontrar um trevo de quatro folhas.

Kevin Carter, 1994


Há cada 3 segundos
morre
uma
criança
no
mundo.

res, 2006


Pense diferente.

A senhora Quanza
coroada a peixes
entra na chuva

Um pequeno estudo 
sobre Física Quântica


Texto de Fernando José Karl


A tranquila contemplação do objeto natural: a chuva: onde a senhora Quanza entra coroada a peixes. Deixo-me perder neste objeto: a chuva: mas ainda existindo enquanto puro sujeito do conhecimento.
         Se presto atenção a um mantra, desvio meu foco de pensamentos ociosos. Literalmente, a consciência não pode focalizar duas coisas ao mesmo tempo. O mundo externo que existe em nós como um mapa interno principia a ceder à medida que nos tornamos mais eficazes na atenção ao mantra.
         O poeta Rabindranath Tagore escreveu:
        
         Semelhante a uma jóia, o imortal
            não se jacta do número de anos
            mas do ponto cintilante de seu momento.

         Quando há absorção completa do objeto da meditação, o aqui-agora é Samadhi. E quem é o sujeito puro do conhecimento? É aquele que tudo conhece, jamais conhecido; aquele que, destituído do incessante querer, é sem dor e respira fora do tempo e do espaço. Nós não o conhecemos jamais – porque o sujeito puro do conhecimento é que conhece, em toda a parte onde o conhecem.
         A senhora Quanza, coroada a peixes, enraiza-se na chuva. Ninguém jamais viu a chuva, porque o que vemos é a chuva em nossa cabeça.  
         Escreve Ibn al-Arabi: "Ela (a consciência) nem tem o atributo do ser nem do não-ser. Ela nem é existente nem não-existente. Não se pode dizer que seja a Primeira ou a Última."
         O nome técnico da ação instantânea à distância, sem sinal, é não-localidade quântica. A não-localidade (e a transcendência) estão em parte alguma e também agora/aqui.
         Nada existe fora da consciência.
         A consciência é não-local. A consciência é o meio que produz o colapso da onda de um objeto quântico, que existe em potentia, tornando-a uma partícula imanente no mundo da manifestação. O colapso da onda quântica é não-local. Quando vemos sem consciência de que vemos, não ocorre colapso.
         Leio uma história zen:
        
            Dois monges discutiam sobre o movimento de uma bandeira ao vento.
            Disse um deles:
            “A árvore está se movendo”.
            “Não, o vento é que está se movendo”, corrigiu-o o outro.
            Um terceiro monge, que passava por ali nesse momento, fez uma observação:
            “A árvore não está se movendo. O vento não está se movendo.
A mente de vocês é que está se movendo”.

         Os objetos quânticos existem de uma forma muito diferente dos macrobjetos da vida diária. A lua está lá em cima quando não a olhamos? Na medida em que ela é, em última análise, um objeto quântico, temos que responder que não.
         Talvez a mais importante, e mais insidiosa, suposição que absorvemos na infância é que o mundo material de objetos existe lá fora independente dos sujeitos, que são seus observadores. Há prova circunstancial em favor dessa suposição. Em todas as ocasiões em que olhamos para a lua, por exemplo, nós a encontramos onde esperamos que esteja, ao longo de sua trajetória classicamente calculada. Naturalmente, projetamos que ela está sempre lá no espaço-tempo, mesmo quando não a estamos olhando. A física quântica diz que não. Quando não estamos olhando, a onda de possibilidade da lua espalha-se, ainda que num volume minúsculo. Quando olhamos, a onda entra em colapso imediato. Ela, portanto, não poderia estar no espaço-tempo. Faz sentido afirmar: não há objeto no espaço-tempo sem um sujeito consciente observando-o.
         A experiência que o sujeito tem de um objeto dentro de si proporciona-lhe um senso de existência e de identidade. O fato de que existe apenas o mundo espiritual priva-nos da esperança e nos propicia a certeza. Existe apenas o mundo espiritual; o que chamamos de mundo físico é o mal do mundo espiritual.
          É perfeitamente pensável que o resplendor da vida circule por toda parte, e sempre em toda sua plenitude, acessível mas velado, profundo, invisível, longínquo. Mas ele está ali, sem hostilidade, sem relutância nem surdez. Com a palavra certa acode ao chamado. Essa é a essência da magia, que não cria, mas convoca.
         Quem sou?
         A resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em seu rosto enigmático.
         De onde vim?
         A resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em seu rosto enigmático.
         Para onde vou?
         A resposta se esgueira em torno da pergunta, fixando desesperadamente os olhos em seu rosto enigmático.
         O que nós, escritores, podemos aprender com os lagartos ou copiar dos pássaros? Na rapidez está a verdade. Quanto mais rápido o jorro, mais veloz a escrita, mais sinceros nós somos. Na hesitação entra o pensamento. Com a demora vem o esforço de encontrar um estilo, em vez de saltarmos para verdade. Mas se procuramos nos voltar para ver o pensamento, aprisioná-lo nas tarrafas da análise e nas armadilhas das definições unívocas, ele também se esvanecerá como fumaça. Há portanto uma singular significação da linguagem, tanto mais evidente quanto mais nos entregamos a ela, tanto menos equívoca quanto menos pensamos nela, rebelde a toda posse direta, mas dócil ao encantamento da linguagem, sempre aí quando confiamos nela ao evocá-la.
         Bosi diz: “A linguagem é pensamento-som”.
         Provérbio árabe: “Não é porque o céu está nublado que as estrelas estão mortas”.
         O mais insignificante descerra a porta maciça: eis o que tudo é um ponto (.) nada mais.
         Um ponto (.) que recebe a alcunha de quantum (unidade de energia luminosa): esse ponto (.), ou quantum, é capaz de deixar a natureza tão flexível, que se torna possível a inexplicável transformação de não-matéria em matéria, de tempo em espaço, de massa em energia.
         A comunicação sem sinal deve acontecer fora do tempo e do espaço: o domínio da potentia que está fora do tempo e do espaço: a não-localidade quântica: a consciência é não-local.
         A não-ação preconizada pelas práticas orientais não é senão integrar-se à ação, a superior, a sublime. As possibilidades quânticas se expandem quando não estamos causando colapso delas.
         Quantum: unidade básica da matéria ou energia: 100 milhões de vezes menor que o átomo mais ínfimo: no nível quântico, a matéria e a energia estão interligadas: devemos aprender a mergulhar no domínio: Algo ou ?: e dali ditar a própria realidade: no nível quântico, matéria e energia tornam-se alguma coisa que não é matéria nem energia: os físicos referem-se a esse estado primordial como singularidade.
         O quantum é invisível: a palavra invisível significa que, além de não ser visto pelos olhos, é também imperceptível para qualquer instrumento inventado pelo homem.
         O ponto (.) em que a coisa-em-si entra mais imediatamente no fenômeno é aquele em que o fio de ouro da consciência ilumina a Vontade/a Pulsão, que jamais pode tornar-se objeto da consciência, a não ser através de uma ideia (Vorstellung) que a representa.
         O fóton (unidade de energia luminosa) é um quantum de luz: cada quantum é feito de vibrações invisíveis: fantasmas de energia à espera de assumir a forma física.
         Que algo tão extraordinário como um estado de consciência surja em consequência da irritação do tecido nervoso é tão inexplicável quanto o aparecimento do Gênio quando Aladim esfrega a lâmpada: a consciência existe, é incontestável, e atrás dela nada existe que possamos perceber: mas ela não existe senão acasalada à linguagem, e não é a primeira que aparece, é a segunda: a função da consciência é a de se perder, obscuramente, na linguagem: a consciência não pode se contemplar a si mesma sem passar pela linguagem.
         A linguagem não tem nenhuma relação conexa com a realidade: não há pensamento sem expressão: a linguagem é um fenômeno emotivo: nós pensamos frases, não pensamos pensamentos: a palavra é a decisiva simplificação: há menos palavras que frases: o número de sons ou de elementos fonéticos contidos nas palavras é muito menos que as próprias palavras: a escrita registra os sons: não existe memória sem emoção.
         A linguagem animal implica uma aderência do sinal com a coisa significada: para que a aderência cesse e o sinal adquira um valor independente do objeto, é necessária uma operação psicológica que está no ponto de partida da linguagem humana.
         Na Física Quântica, as coisas permanecem como possibilidades, até que um ser consciente de fato as observe.
        
        
         A                     B, C, D, F, G etc

           __________
                 Algo
                   ?
              Outro
        
        
         Toda área abaixo da linha não é uma região para ser visitada no espaço e no tempo. A mente e o corpo ficam acima da linha: A é um evento mental, um pensamento: todas as outras letras: B, C, D, F, G etc, correspondem a processos físicos que se seguem a A.
         Os estados mentais são invisíveis e não têm peso. O pensamento é imaterial e não tem nenhuma ligação com algum objeto material. Todas as mudanças físicas no organismo podem estar ligados a uma cadeia natural de causa e efeito, exceto o espaço abaixo da linha depois de A: o Algo ou ? ou o Outro: esse Algo ou ? ou o Outro é o ponto em que primeiro ocorre a transformação do pensamento em matéria: e precisa ocorrer, ou os outros eventos não ocorrerão: essa transformação não leva nenhum tempo nem acontece em algum lugar: a  imagem assemelha-se a uma fila de pessoas passando uma ânfora umas às outras, onde todas apanham a ânfora da anterior, menos a primeira, que a pega não sabendo de onde: ou talvez a pegue de lugar nenhum.
         Na Fonte da Inteligência há pouca diferença entre pensamentos e moléculas: as palavras e as imagens funcionam como as moléculas reais para disparar o contínuo processo da vida.
         Aainda é mistério o instante em que a Natureza criou o primeiro fóton no vazio. Entre um pensamento e outro existe um lapso de silêncio. Algo mais profundo, no domínio do silêncio, cria nossa visão da realidade.
         Aquele que se denomina o Algo ou ? ou o Outro em nós, é aquele que está para além de uma dimensão imaginária, sendo o portador de um tesouro de significantes, isso é, o Algo ou ? ou o Outro é uma instância que é feita de palavras: o significante não é o som pronunciado ao se enunciar a palavra, mas a sua imagem acústica.
         O sim diz respeito ao campo do Algo ou do ? ou o do Outro, pelo fato do sujeito, pela sua inconsistência, só poder aparacer Outrificado.
         Sim, faço do Agora o foco principal de minha vida.
         O observador silencioso de todo processo: só existe matéria se houver o observador consciente: ao toque de um pensamento um neuropeptídeo (molécula mensageira) aflora na existência: o fóton (quantum de luz), não é quase nada, e, porque feito de mínima matéria, pode lampejar dentro e fora da existência.
         A grande capacidade do neuropeptídeo (molécula mensageira) é a de obedecer aos comandos da mente com a velocidade da luz. Supor a existência de um campo invisível que mantém toda a realidade unida.
         Um verso dos Vedas diz: “O que você vê você se torna”.
         No mesmo instante em que você pensa Sou feliz, um neuropeptídeo transforma sua emoção que não tem nenhuma existência sólida no mundo material numa partícula de matéria tão perfeitamente afinada a seu desejo, que todas as células de seu corpo, literalmente, ficam sabendo dessa felicidade e a compartilham. O Universo foi criado uma vez, mas nós nos recriamos a cada pensamento.
         No Oriente, meditação significa a ausência de objetos na mente. Quando não há pensamentos se movendo dentro de você, há uma quietude. O buraco real clama por um significante que o fixe a um objeto e por uma imagem que lhe dê consistência, mas tudo o que encontra é a marca de um objeto ausente objeto a o silêncio.
         De que maneira, no cérebro, um padrão neural se torna um vaso sagrado é uma questão que a neurobiologia ainda não elucidou. Se pedirmos para alguém fechar os olhos e imaginar um objeto, as mesmas áreas do cérebro se ativarão, como se estivessem vendo o objeto. A verdade é que o cérebro não sabe a diferença entre um vaso sagrado que ele vê com os olhos abertos, por exemplo, e um vaso sagrado que ele vê com os olhos fechados, através da memória, pois os mesmos neurônios são ativados. Tanto faz se o vaso está fora ou dentro do cérebro, um padrão neural é que constrói o vaso sagrado com a forma de uma imagem. O vaso sagrado-objeto e o vaso sagrado-imagem, ambos são reais para o cérebro que, depois, repassa as informações sobre o que viu e sentiu sobre este vaso sagrado para todo o corpo.
Tudo o que nos cerca, e nós mesmos, é apenas restolho de um colosso invisível: somos o grande envergonhado que se faz pequenino: não há nada mais atual que a grande infância esquecida: as sombras só ganham vida quando carregadas pelo desejo: a presença insidiosa do desejo: pois o desejo é o cerne da magia: dir-se-ia que é uma lei do espírito só encontrar o que não procurou: o acaso é fundamental: as partículas não seguem o bom senso: o essencial não ocorre no espaço e no tempo.