sexta-feira, 17 de maio de 2013

Tty Art




NO MAIS ÍNTIMO
DO PALÁCIO ELÍSIO DE KUBLAI KHAN
(O velho cântaro)

Quer eu descreva o velho cântaro
no palácio elísio de Kublai Khan,
ou a luxuriante Viena de 1900,
ou, entre duas árvores de uma rua em Istambul,
o encontro fortuito
com a mais bela mulher do mundo,
quer eu descreva um banho
nas termas de Caracalla,
ou, na tarde de ontem,
a sala de estar de um sobrado,
ou aquele jarro de gencianas
perto da janela envidraçada,
quer eu descreva isto ou aquilo,
minha imaginação nunca deve esquecer
de tomar posse,
por meio da curiosidade e do amor,
de qualquer um dos fatos acima descritos.
Quando tento recordar algo,
não posso recordar de tudo,
porque eu ficaria soterrado.
Procuro resgatar apenas “uma” coisa
e faço isso com exatidão.
Deixo que essa coisa seja meu grão de cristal,
assim que adquiro o controle sobre ela,
observo o que surge daí.

NÃO FIZ NADA PARA NASCER
E SOU INTIMADO A MORRER

Para mim a morte explica-se como História Natural, como aquilo que tornou possível o pensamento. Se temos uma meta, parece-me que só pode ser a morte. Tudo o que se diz é sempre sobre a morte.
O nosso nascimento lança-nos numa amnésia, ávidos de mar grosso e de palavras, ávidos de algumas sombras de amor. Tentamos ressuscitar a xícara e fracassamos, o fôlego e fracassamos,
tentamos ressuscitar o que somos nesse instante e fracassamos, porque não se trata de ressuscitar ou não, trata-se de sumir numa Fuga, de Johann Sebastian Bach, para não se sabe onde, para onde não se sabe mais.



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